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Uma das mais tradicionais editoras brasileiras. Desde de 1943 publicando livros de excelente conteúdo.

11/11/2011

Editora Brasiliense – Biografias: Caio Prado Júnior (parte 2)

   Caio Prado Júnior, em 1943, participou da revista Hoje ao lado de Monteiro Lobato e Arthur Neves. Nesse mesmo ano foi fundada a Editora Brasiliense e a Gráfica Urupês (em sociedade com seu pai, Senhora Leandro Dupré, Hermes Lima, Arthur Neves e Monteiro Lobato).
   Do seu segundo casamento, nasceu em 22/01/1945, Roberto Nioac Prado (3º filho de Caio). Também no ano de 1945, publicou História Econômica do Brasil e nesse mesmo ano o PCB voltou a atuar na legalidade. Caio então, elegeu-se deputado estadual pelo PCB em 1947, com 5.257 votos. No ano seguinte, o Partido Comunista Brasileiro voltou à ilegalidade e Caio perdeu seu mandato parlamentar, voltando a ser preso (dessa vez por cerca de três meses). Após deixar a prisão, ele voltou a se dedicar à Editora Brasiliense, participando da revista Fundamentos.
   Em 1954 candidatou-se para a Cátedra de Economia Política da Faculdade de Direito da USP, apresentando a tese: Diretrizes para uma Política Econômica Brasileira que foi reprovada. No entanto, apesar de disputar com vários candidatos, acabaram por conceder-lhe o título de livre-docência. No ano seguinte, lançou a Revista Brasiliense que se tornou um verdadeiro sucesso na época.
    Com a ascensão do regime militar em 1964, a Revista Brasiliense foi extinta e Caio Prado Júnior ficou preso por uma semana no DOPS. Os militares perseguiram Caio e sua editora (bem como sua livraria), os funcionários da Brasiliense também foram alvos de constantes depoimentos e prisões.
     Em 1966, ele publicou o livro A Revolução Brasileira e, por essa obra, recebeu o prêmio Juca Pato de intelectual do ano. No ano seguinte participou do Congresso de Filosofia no Canadá, e em maio daquele ano visitou os exilados brasileiros que estavam morando na Argentina e no Chile.
   Em 1968, inscreveu-se para a cátedra de História do Brasil em um concurso da Universidade de São Paulo, por essa ocasião começou a preparar a tese História e Desenvolvimento. No entanto, o concurso para aquele ano foi cancelado e, nesse mesmo ano, Caio divorciou-se de sua segunda esposa, Nena Nioac.
   A repressão política imposta pelo regime militar continuou forte no país e Caio Prado Jr. foi acusado de incitar e subverter a ordem político-social. Então, Caio fugiu para o Chile. Em 1970, retornou ao Brasil e apresentou-se para o seu julgamento. Assim, foi condenado pelo Tribunal Militar e levado para a Casa de Detenção Tiradentes. Roberto Nioac Prado, seu filho, faleceu nesse ano.
   No ano de 1971, Caio foi transferido para o Quartel de Quitaúna, e no mês de agosto, ganhou a sua liberdade. Nesse ano publicou O Estruturalismo de Lévi-Strauss e O Marxismo de Louis Althusser.
  História e Desenvolvimento – A Contribuição da Historiografia para a Teoria e Prática do Desenvolvimento Econômico foi publicada em 1972.
   No ano de 1974, Caio casou-se pela terceira vez, agora com Maria Cecília Naclério Homem. No ano de 1980 publicou o seu primeiro livro pela Coleção Primeiros Passos: O que é Liberdade. Em 1981 publicou O que é Filosofia e no ano de 1983 publicou A Cidade de São Paulo: Geografia e História.
   Em 1988 o Ministério da Ciência e Tecnologia e o CNPq (na área de ciências humanas) concederam-lhe o Prêmio Almirante Álvares Alberto para Ciência e Tecnologia. O prêmio foi recebido por sua filha, Danda Prado, pois Caio já se encontrava bastante doente. Em maio desse ano a UNESP (campus de Marília) realizou a II Jornada de Ciências Sociais – dedicada a Caio Prado Júnior.
   1990 – aos 83 anos, Caio Prado Júnior faleceu na cidade de São Paulo.

Por: Natália Chagas Máximo
Fontes/Biografias sobre Caio Prado Jr:
Caio Prado Jr. – Dissertação sobre a Revolução Brasileira, de Raimundo Santos (org.). Editora Brasiliense: São Paulo, 2007.
Caio Prado Jr. – um intelectual irresistível, de Maria Célia Wider. Coleção Encanto Radical, Editora Brasiliense: São Paulo, 2007.
Caio Prado Jr. – uma trajetória intelectual, de Paulo Teixeira Iumatti. Editora Brasiliense: São Paulo, 2007.
Diários políticos de Caio Prado Jr., de Paulo Teixeira Iumatti. Editora Brasiliense: São Paulo, 1998.
Página da Assembleia Legislativa de São Paulo na internet: http://www.al.sp.gov.br/web/acervo2/caio_prado/Perfil_biografico/perfil_biografico.htm

Obras de Caio Prado Jr. na Brasiliense:
O que é Liberdade
O que é Filosofia
A cidade de São Paulo: geografia e história 
História Econômica do Brasil
Em breve: 
Diretrizes para uma Política Econômica Brasileira  (texto inédito de publicação, será publicado pela Brasiliense em 2012).

21/09/2011

Biografias: Caio Prado Júnior (parte 1)

   Caio da Silva Prado Júnior foi um dos mais brilhantes intelectuais brasileiros: filósofo, geógrafo, político, historiador, escritor e editor – preocupava-se com a sociedade brasileira. Nasceu na cidade de São Paulo, em 11 de fevereiro de 1907 no berço de uma das mais influentes famílias paulistanas, filho de Caio e Antonieta Silva Prado, teve três irmãos (Eduardo, Yolanda e Carlos).
    Como acontecia com a maioria dos membros das famílias de elite, Caio Prado Jr. iniciou os seus estudos em casa, com professores particulares. No ano de 1918 entrou no colégio jesuíta São Luís, onde estudou até o final de seus estudos secundários. Sua família passou um tempo na Inglaterra, e lá, Caio estudou por um no Colégio Chelmsford Hall.
    Entre 1924 e 1928 frequentou a Faculdade de Direito do Largo São Francisco (hoje pertencente a USP) e aos 21 anos de idade formou-se bacharel em ciências jurídicas e sociais. No dia 18 de dezembro de 1928 Caio Prado Jr. casou-se com Hermínia Ferreira Cerquinho (Baby). Em 24 de outubro de 1929, nasce a primeira filha do casal: Yolanda Cerquinho Prado.
   Aproximou-se da vida política em 1928, quando se filiou ao Partido Democrático (PD) – um partido fundado em oposição ao Partido Republicano Paulista (PRP), um dos fundadores do PD foi o seu tio-avô Antônio Prado. Caio foi um militante ativo, sobretudo nos momentos que antecederam a Revolução de 1930. Pouco tempo depois, aproximou-se da corrente marxista e no ano de 1931 filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Em 12 de agosto desse mesmo ano, nasce o seu segundo filho, Caio Graco Prado.
    Publicou a Evolução Política do Brasil em 1933 e em 1934 ingressou na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH – USP). Frequentou as turmas de geografia e de história e nesse mesmo ano, participou da fundação da Associação dos Geógrafos do Brasil (AGB).
   No ano seguinte, Caio Prado Jr. assumiu a vice-presidência regional da Aliança Nacional Libertadora (ANL) que se opunha ao governo de Getúlio Vargas. Nessa época nascia uma forte repressão política anticomunista e Caio passa a sofrer forte vigilância da polícia política de São Paulo. Em dezembro desse ano, foi preso no Rio Grande do Sul e trazido de volta para São Paulo, ficando preso por cerca de dois anos. Com a suspensão do estado de sítio, recebeu o habeas corpus em junho de 1937 e conseguiu a sua liberdade. Assim, foi exilar-se na França e lá foi militante do Partido Comunista Francês.
   Voltou ao Brasil no ano de 1939, em plena ditadura do Estado Novo e participou da reunião de fundação da União Democrática Nacional (UDN), mas manteve-se fiel ao PCB. É nesse ano que Caio se divorcia de Baby. Nos anos 1940 retomou a sua publicação intelectual e, no ano de 1942 casa-se com Helena Maria Nioac (Nena) e publica Formação do Brasil Contemporâneo.

    Continua...

Por: Natália Chagas Máximo

Fontes/Biografias sobre Caio Prado Jr.:

Caio Prado Jr. – Dissertação sobre a Revolução Brasileira, de Raimundo Santos (org.). Editora Brasiliense: São Paulo, 2007.

Caio Prado Jr. – um intelectual irresistível, de Maria Célia Wider. Coleção Encanto Radical, Editora Brasiliense: São Paulo, 2007.

Caio Prado Jr. – uma trajetória intelectual, de Paulo Teixeira Iumatti. Editora Brasiliense: São Paulo, 2007.

Diários políticos de Caio Prado Jr., de Paulo Teixieira Iumatti. Editora Brasiliense: São Paulo, 1998.

Página da Assembleia Legislativa de São Paulo na internet: http://www.al.sp.gov.br/web/acervo2/caio_prado/Perfil_biografico/perfil_biografico.htm

26/08/2011

Editora Brasiliense e sua história (parte 7) – Dos anos 1990 aos dias de hoje: a presidência de Danda Prado

  Com a morte de Caio Graco em 1992, a Editora Brasiliense passa a ser presidida pela sua irmã, Danda Prado. Danda já participava da editora desde os anos 1960 quando era responsável pelo editorial: lia os originais enviados, avaliava as capas, etc. Foi a responsável pela criação de importantes coleções como: Jovens do mundo todo e Marcha do tempo. Por saber ler em francês, alemão e inglês, Danda Prado tinha facilidade com a leitura de textos nesses idiomas e assim, podia buscar autores que tinham grande abertura intelectual. Apesar das dificuldades impostas pelo governo da época, essas coleções buscavam abordar questões sociais que atingiam o público juvenil.
  Em sua gestão buscou imprimir sua marca pessoal à editora, mas sempre mantendo a tradição da Brasiliense em ser uma editora de vanguarda e abordar temas que necessitam ser debatidos em nosso país. Nos anos 1990, as coleções Encanto Radical e Primeiros Passos continuaram a ser uma fonte de novos e importantes títulos.
  Danda Prado sempre deu espaço para que os autores trabalhassem com títulos que abordassem temas polêmicos tais como, o preconceito e a sexualidade. Com ela, a Brasiliense foi uma das primeiras editoras a trazer o tema do aborto. Danda Prado também é autora e escreveu os seguintes títulos: O que é aborto, O que é família e o livro infantil Nossas adoráveis famílias, este último com a parceria de Bebeti do Amaral Gurgel.
  Dos anos 1990 para cá, a Editora Brasiliense passou por altos e baixos, perdas e ganhos e passou também por alguns problemas administrativos, diminuindo-se o número de lançamentos e de impressões dos seus livros. A Brasiliense sofreu um grande golpe quando perdeu os direitos de publicação da obra de Monteiro Lobato em 2007. No mercado editorial muitos foram os boatos sobre a sua venda e até sobre o seu fechamento, mas nada disso nos aconteceu. A Editora, mesmo com um quadro enxuto de funcionários, continua trabalhando para voltar a ter o seu lugar de destaque no cenário editorial brasileiro.
  Hoje, a Editora Brasiliense continua sendo presidida por Danda Prado que agora conta com o apoio de sua filha Carla Prado. 
  “Somente por meio da cultura podemos transformar”... Essa é a tradição da família Prado, que há 68 anos procura produzir livros que integrem autores e leitores em questões sociais relevantes em nosso país. A Brasiliense segue a sua linha acadêmica, voltada para a área de ciências humanas (Filosofia, Sociologia, Comunicação, Educação, etc.); e também com a sua linha infantil, abordando temas importantes para a formação da criança enquanto leitor.
  Nossos últimos lançamentos comprovam o interesse da Brasiliense em abordar temas atuais e importantes, tais como: bullying, comunicação hipermidiática e inclusão! Conheça nossas últimas publicações: Bullying, saber identificar e como prevenir, de Aramis Antonio Lopes Neto; O que é hipermídia, de Sérgio Bairon e O que é educação inclusiva, de Emílio Figueira.


Texto e adaptações por: Natália Chagas Máximo

05/08/2011

Editora Brasiliense e sua história (parte 6) – Os anos 1980 e a Coleção Tudo é História

       No último texto nós falamos sobre o surgimento da coleção “Primeiros Passos” e perguntamos se você sabia qual era a outra coleção de sucesso que a Brasiliense lançou nesse período. Você já descobriu?
    Com a mesma proposta de abordar temas consagrados em uma linguagem clara e simples e aproveitando o sucesso que estávamos tendo, a Brasiliense lançou em 1981 a coleção “Tudo é História”. O primeiro título dessa coleção foi As independências na América Latina de Leon Pomerantz.
     Em dois anos “Tudo é História” vendeu 600.000 exemplares de seus 76 títulos. Hoje a coleção já conta com mais de 150 títulos e os últimos lançamentos foram Teoria da História de Pedro Paulo Funari e Política e cultura no império brasileiro de Suely Robles Reis Queiroz.
     O top 10 da coleção “Tudo é História” é: Teoria da História, Londres e Paris no século XIX: o espetáculo da pobreza, O Egito antigo, América pré-colombiana, A inquisição, O Oriente Médio e o mundo árabe, O mundo antigo: economia e sociedade, O nascimento das fábricas, As revoluções burguesas e O iluminismo e os reis filósofos.
    Na cola das coleções “Primeiros Passos” e “Tudo é História” seguiu-se uma série de coleções que procuravam atingir a recém-descoberta fatia do mercado: “Encanto Radical”, “Cantadas Literárias” e “Circo de Letras”.
    Caio Graco (até então presidente da Editora) faleceu em junho de 1992, esse fato trouxe novas dificuldades para a Editora, mas ao mesmo tempo, renovou o desafio que a move desde sua fundação: a produção de livros no Brasil. Com isso, nos anos 1990 Danda Prado (irmã de Caio Graco e filha de Caio Prado Júnior) assume a presidência da Editora Brasiliense. Mas isso é matéria para o próximo post.

Texto escrito por: Paulo Teixeira Iumatti
Adaptações e atualizações no texto por: Natália Chagas Máximo 

22/07/2011

Editora Brasiliense e sua história (parte 5) – Os anos 1980, nasce a Coleção Primeiros Passos

    No último post, falávamos sobre a ideia que Caio Graco teve de popularizar os livros. Ele queria lançar uma coleção de livros em formato pequeno, mas que servissem de apoio didático para que os jovens universitários fossem introduzidos aos mais diversos e importantes temas.  Você sabe qual foi o resultado dessa ideia?
     O resultado foi uma das maiores reviravoltas do mercado editorial brasileiro: a coleção “Primeiros Passos”. O primeiro volume O que é socialismo, de Arnaldo Spindel, foi lançado em 1980. Do lançamento até o ano de 1984 a coleção já havia vendido 2,5 milhões de exemplares de seus 133 títulos, passando a representar 25% do faturamento da Editora. O que é ideologia, de Marilena Chauí, era o best-seller da coleção, com mais de 200.000 exemplares vendidos nos primeiros quatro anos.
      O centésimo exemplar da “Primeiros Passos”, O que é contracultura, evidenciava as diferenças ideológicas de Caio Graco, que fora influenciado pela rebelião estudantil de maio de 1968, em relação à política editorial anterior.  
      Em 1983, a Brasiliense publicara em três anos, mais livros do que em todo o período anterior desde sua fundação. Em 1984, a empresa, associada à Editora Abril, passou a distribuir os livros da coleção “Primeiros Passos” nas bancas de jornal. O plano era o de lançar um título novo a cada semana. E novamente o êxito inicial foi enorme: em uma semana foram vendidos 85 mil exemplares dos dois primeiros títulos.
      Hoje, mais de 30 anos depois a coleção “Primeiros Passos” continua ativa e já teve mais de 300 títulos lançados, além de ter ganho uma nova roupagem – desde o ano passado os livros da “Primeiros Passos” estão ganhando capa nova e uma nova diagramação. Nosso top 10 de livros vendidos da coleção é: O que é Sociologia, O que é Ética, O que é Direito, O que é Educação, O que é ideologia, O que é comunicação, O que é arte, O que é cultura, O que é etnocentrismo e O que é filosofia. Em 2011 lançamos os livros O que é hipermídia, de Sérgio Bairon e O que é educação inclusiva, de Emílio Figueira. Em breve sairão os títulos O que é cultura organizacional, O que é espionagem e O que é município.
     Mas nos anos 1980 a Brasiliense também lançava outra coleção de sucesso, você sabe qual é? Aguarde o próximo post...

Texto escrito por: Paulo Teixeira Iumatti
Adaptações e atualizações no texto por: Natália Chagas Máximo 

15/07/2011

Editora Brasiliense e sua história (parte 4) – Os anos 1970 e a ascensão de Caio Graco

    O regime militar continuou durante a década de 1970, a editora enfrentava tempos difíceis e busca novas soluções para poder manter-se no mercado editorial. Essas soluções começaram a aparecer quando o filho de C. Prado Jr., Caio Graco Prado (1931-1992), assumiu o comando da Brasiliense.
    Caio Graco, desde 1960 havia ocupado diferentes postos na hierarquia da editora, e em 1975 assumiu definitivamente a presidência da empresa. Durante os piores anos da crise, contudo, ele já detinha de fato o controle da Editora Brasiliense: sua linha editorial caracterizou-se, de um lado, pelo refúgio na literatura infantil e, de outro, pela tentativa de atingir um público mais amplo através da diversificação da oferta de livros.
   Foi nesse período que a Brasiliense conquistou o público universitário! Eram editados livros sobre sociologia, administração, psicologia, informática e contabilidade, além dos cadernos e revistas de literatura, educação, debates e críticas, como o Leia Livros. Sem contar que a Brasiliense havia se tornado uma espécie de abrigo para os jovens ficcionistas brasileiros, mantendo a publicação das coleções “Contos Jovens” e “Jovens do Mundo Todo”.
    Mesmo com todas essas publicações, a grande solução para a relativa estagnação em que a Brasiliense ainda se encontrava, surgiu um pouco mais tarde, quando já ia avançando o processo de abertura política. Essa solução apareceu para Caio Graco em 1979.
  Em Fortaleza, ocorriam reuniões da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Observando que um grupo de jovens tinha dificuldades para participar de debates dessas reuniões, Caio Graco teve a ideia de lançar no Brasil uma coleção de livros didáticos de qualidade, escritos por especialistas e em tamanho reduzido.
    Caio Graco queria popularizar os livros! Já sabe de qual coleção estamos falando? Aguarde o próximo post! 

Texto escrito por: Paulo Teixeira Iumatti
Adaptações no texto por: Natália Chagas Máximo 

08/07/2011

Editora Brasiliense e sua história (Parte 3) – Anos 1960, a Brasiliense e os Governos Militares


      Como já dito anteriormente, a linha da editora Brasiliense sempre foi social e política. No primeiro post falamos sobre o fato de nossa editora dar espaço e voz para que seus autores pudessem expressar suas ideias e opiniões contrárias aos ideais políticos governistas. Obviamente, essa postura editorial da Brasiliense iria incomodar o regime político que se instaurou no país a partir de 1964: a ditadura militar.
      O golpe de 1964 que derrubou o presidente João Goulart, levou os militares ao poder e trouxe novas dificuldades para a editora. A liberdade de imprensa voltava a ser restringida e a censura passava por uma fase de recrudescimento. Dessa forma, os grupos que se instalaram no poder com o golpe militar determinaram a invasão da gráfica Urupês e a destruição dos exemplares de março/abril da Revista Brasiliense.
      Contudo, o governo de Castelo Branco proporcionou facilidades à produção de livros, e a segunda metade da década de 1960 foi marcada por um grande crescimento do mercado editorial. Nesse período a Brasiliense lançou uma importante coleção conhecida como “Teatro Universal”. Criada em 1965, a coleção “Teatro Universal” dirigida por Sábato Magaldi proporcionou ao seu público a leitura de traduções de grandes clássicos da dramaturgia, além de trazer textos dos mais renomados autores brasileiros: Gianfrancesco Guarnieri, Jorge Andrade e Nelson Rodrigues. Em 1967, a Brasiliense teve um lucro superior em 26% comparado ao ano precedente, apesar de ter mantido o mesmo número de lançamentos e reedições. Nesse ano surgiu a coleção “América Latina – Realidade e Romance”, em que escritores como o guatemalco Miguel Angel Astúrias foram apresentados para um público que se mostrou surpreendentemente receptivo. 
      A editora Brasiliense conseguiu manter indene a sua linha editorial, publicando livros de autores hostis ao governo militar, mas só até 1968. Em 1968 começava o período mais duro do regime militar, os “anos de chumbo” no país.  O governo Costa e Silva instaura o AI-5 – ato institucional que endureceu ainda mais a repressão e a censura.
      Nesse período todos os livros que ameaçassem (ou que eles julgavam que ameaçasse) o governo militar, estavam proibidos. Era proibido divulgar e publicar ideias que fossem contrárias ao que o Governo pensasse. A Brasiliense se viu obrigada a queimar uma boa parte dos seus estoques e a esconder muitos perseguidos políticos, o que não teria sido possível sem a cumplicidade de inúmeros funcionários, entre os quais cabe destacar simbolicamente – Lázaro Borges.
    Nosso fundador, Caio Prado Júnior, também foi perseguido pelos militares. Sob a acusação de ter supostamente incitado um grupo de estudantes à “desobediência”, ele foi condenado à prisão por um Tribunal Militar em 1970. A precária situação da editora foi agravada, ainda, por algumas dificuldades administrativas que fizeram com que a gráfica Urupês – dirigida por Roberto Nioac Prado (1945-1970), filho de C. Prado Jr. – tivesse de ser fechada, e pela crise mundial do petróleo de 1973, que aumentou brutalmente os preços dos transportes, da energia e do papel.
     Sobre a editora nos anos 1970, a ascensão de Caio Graco Prado e o fim do período militar você lê no próximo post.


Texto escrito por: Paulo Teixeira Iumatti
Adaptações no texto por: Natália Chagas Máximo 

01/07/2011

Editora Brasiliense e sua história (Parte 2) – Os anos 1950 e a Revista Brasiliense

    O papel havia praticamente sumido do mercado brasileiro em 1952, e a Brasiliense tinha as suas atividades quase que encerradas. A editora tentou reagir a essa adversidade publicando em 1953 as obras de Afonso Schmidt e aumentando o número de reedições das obras de Monteiro Lobato nos anos de 1954 e 1955. Mesmo passando por essa difícil fase que acarretara em uma queda no conjunto de lançamentos e reedições, a Brasiliense não deixou de seguir a sua linha: temas sociais e políticos.
    A Editora Brasiliense teve sua imagem reacesa no cenário cultural brasileiro em 1955, com o lançamento da Revista Brasiliense. A revista foi fruto de uma idealização feita por Caio Prado Júnior e Elias Chaves Neto, sua fundação contou com a ajuda dos intelectuais: Sérgio Buarque de Holanda, Heitor Ferreira Lima, João Cruz da Costa, Sérgio Milliet, dentre outros.
   A Revista Brasiliense teve 51 números publicados e tornou-se um núcleo sem filiação política ou partidária, em torno do qual vários escritores, médicos e especialistas das mais diversas áreas se congregaram a fim de estudar em profundidade o amplo espectro de problemas que envolviam a política, a cultura, a economia e a sociedade brasileiras.
    A linha independente da revista marcava o distanciamento entre Caio Prado Júnior e as teses do PCB. Pouco antes do XX Congresso do Partido Comunista Soviético, Luís Carlos Prestes em um artigo publicado na revista Problemas de forma depreciativa chamou a Revista Brasiliense de “nacional reformista”.
    Contrapondo-se aos ideólogos do “desenvolvimentismo” tecnicista e predatório, a Revista lançava as atenções, sobretudo, às parcelas da população que haviam permanecido alijadas dos benefícios do surto industrial e da legislação trabalhista, bem como às condições de dependência em que o Brasil se inseria no âmbito das relações internacionais. Seus numerosos colaboradores tinham em comum uma visão humanista dos nossos problemas sociais e econômicos: seu principal objetivo era o de ajudar na formação de uma consciência interessada na reorganização de nossa sociedade, levando em conta suas diversidades regionais, de modo a elevar o padrão de vida da grande maioria da população, condição sem a qual seria impossível a formação de uma nacionalidade brasileira. Nessa linha de pensamento, a Revista teve um importante papel na divulgação e na formação de toda uma geração de jovens intelectuais de dentro e de fora da Universidade, especialmente em São Paulo. O intercâmbio de ideias se dava nas reuniões mensais organizadas pelo Diretor-Responsável, Elias Chaves Neto, que, tal como Caio Prado Júnior, escreveu editorias e artigos para quase todos os números.
    Contudo, a Editora Brasiliense não restringiu as suas atividades apenas à Revista. Entre 1955 e 1964, o governo Juscelino Kubitschek proporcionou uma série de estímulos à produção de livros, o que favoreceu a concretização de alguns antigos projetos. Com a iniciativa de Caio Prado Jr. e a coordenação de Francisco de Assis Barbosa, a Brasiliense publicou em 1956 as Obras Completas de Lima Barreto. A obra de Lima Barreto, até então, havia permanecido marginalizada, sem um tratamento que estivesse à altura de seu papel na literatura brasileira.
    No final da década de 1950, a Brasiliense passava a efetuar grandes vendas de livros para órgãos como o MEC (Ministério da Educação e da Cultura) e o Instituto Nacional do Livro. Essas vendas governamentais garantiram à editora os recursos para dar continuidade aos seus projetos.
    Yolanda Cerquinho Prado, mais conhecida como Danda Prado (filha de C. Prado Jr.), cria em 1960 a coleção “Jovens do Mundo Todo”. Essa coleção vislumbrava um público que – mais tarde – seria o grande responsável pelo seu estrondoso sucesso editorial. “Jovens do Mundo Todo”, em seus primórdios, visava à publicação de traduções de romances históricos para jovens. Por essa mesma época, foram publicadas as obras de Josué de Castro, de Nelson Werneck Sodré e de muitos participantes mais ativos da Revista Brasiliense.
    Após o golpe militar de 1964, surgem novas dificuldades e a continuação dessa história você lê no próximo post...

Texto escrito por: Paulo Teixeira Iumatti
Adaptações no texto por: Natália Chagas Máximo 

17/06/2011

Tradicionalmente Inovadora: Editora Brasiliense e sua história (parte 1)

     Tradicionalmente inovadora, esta é a Editora Brasiliense. A Brasiliense é uma das mais tradicionais editoras em atividade no mercado brasileiro, a editora nasceu em um período de grandes turbulências no cenário político de nosso país.
      O ano era 1943 e estávamos em plena Era Vargas, mais precisamente no período do Estado Novo. O Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) e o Instituto Nacional do Livro impunham limites para a produção e comercialização de livros.
     É nesse cenário de autoritarismo e repressão política que o historiador Caio Prado Júnior (1907-1990), o escritor Monteiro Lobato (1882-1948) e o militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro) Artur Neves criam a revista Hoje – O Mundo em Letra de Forma. A revista funcionava nos fundos de uma livraria em São Paulo, na rua D. José de Barros e divulgava clandestinamente o material que o PCB produzia em oposição ao Estado Novo.
      A revista deu luz para outro projeto, a fundação de uma editora. Caio Prado Júnior, servindo-se de recursos pessoais e familiares, conseguiu que o grupo se transferisse para o prédio de uma livraria na Rua Barão de Itapetininga, e ali a escritora Senhora Leandro Dupré juntava-se ao grupo. Nascia assim, a Editora Brasiliense, uma das raras editoras que deu voz aos autores que ousaram contestar os ideais políticos impostos pelo Governo.
     Brasiliense. No nome, a tentativa de arrancar das mãos do Estado autoritário o epíteto do ideal de uma nação, transferindo-o para as forças de oposição que exigiam a democratização e a mudança. A intenção inicial era, portanto, a de dar voz aos cromatismos e às dissonâncias do pensamento brasileiro, criando um espaço em que os escritores pudessem expressar as suas ideias livremente.
      As obras de Caio Prado, Lobato e Dupré representavam quase a metade das publicações feitas pela Brasiliense até 1945. Autores nacionais compunham dois terços de nossas edições. A editora preocupava-se em destacar temas como: história recente do país, leis trabalhistas, reforma agrária, política rural, política alimentar, etc. Uma de nossas marcas em oposição ao governo foi uma recusa em incorporar a reforma ortográfica promovida por Vargas. Em carta escrita para Artur Neves, Lobato escreve: “Antes morrer que aderir ao Estado Novo, e acento é Estado Novo”.
      O país passou por um processo de redemocratização entre os anos de 1945 e 1947, assim o PCB saiu da ilegalidade. A Editora Brasiliense aumentava o volume de publicações que interpretavam a realidade brasileira dentro de uma perspectiva crítica. Nessa época a Brasiliense lança a revista Fundamentos.
      O ano de 1948 não foi bom para a editora. Monteiro Lobato falece em 4 de julho, ele até então havia sido o “espírito da Brasiliense”. Além disso, o PCB voltava à ilegalidade e Caio Prado Júnior (eleito Deputado Estadual em 1947) ficou detido durante três meses e também teve o seu mandato cassado. Além disso, os mecanismos de censura e a política cambial do governo Dutra (que tornava a importação de livros mais barata que a importação de papel para produzi-los aqui) dificultavam o trabalho e a produção da editora.
    Nesse contexto, foi criada a Livraria Monteiro Lobato. Apesar de seu repentino êxito comercial, que possibilitou a montagem da Encadernadora Monteiro Lobato e a ampliação dos depósitos da Editora, a Brasiliense viveu, no começo da década de 1950, uma das maiores crises de sua história. 

Continua...
Texto por: Paulo Teixeira Iumatti
Adaptações no texto: Natália Chagas Máximo